As ações do Carrefour e do Assaí vêm tendo performances
consideravelmente piores do que o Ibovespa em 2023 e analistas, por
enquanto, estão divididos se as coisas irão ou não melhorar.
Enquanto o principal índice da Bolsa brasileira sobe mais de 3%
no ano, as ordinárias do Carrefour (BOV:CRFB3) recuam quase 31% e
as do Assaí (BOV:ASAI3), quase 38%. A equipe de research de dois
dos maiores bancos do mundo, nesse momento, discordam se o momento
é de manter a cautela ou uma oportunidade de compra.
O JPMorgan, na última semana, apontou em relatório alguns dos
possíveis motivos para o recuo do setor de atacarejo – que até
pouco tempo era um dos favoritos dos investidores.
Primeiramente, o principal índice de inflação brasileira, o IPCA
(Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acumula em abril
de 2023 4,18% nos últimos doze meses, alta bem menor do que os mais
de 11% registrados em junho do ano passado. O avanço dos preços,
contudo, sempre foi um aliado dos atacarejos. A variação em si,
normalmente, já impulsiona a receita e traz alguma margem de ganhos
como por exemplo com valorização de produtos em estoque. Além
disso, com suas rendas comprometidas, as pessoas acabam procurando
mais essas opções, que oferecem produtos a preços menores.
“A desaceleração da inflação de alimentos deve continuar
prejudicando a receita até o final de 2023, com queda de
faturamento e o crescimento das vendas mesmas lojas [SSS, na sigla
em inglês]”, fala o time do JP Morgan, encabeçado por Joseph
Giordano.
Mas, provavelmente, a origem da maior dor de cabeça para as
companhias, na visão do JP, seja a competição.
Maior competição
De março de 2022 para março deste ano, o Carrefour aumentou o
número de unidades do Atacadão de 252 para 346. O Assaí foi um
pouco mais modesto, tirando 32 novas lojas do papel, chegando a
217. E o processo de mudança ainda continua, com os dois grupos
ainda realizando conversões neste ano. De acordo com a pesquisa NIQ
Ebit, foram mais de 400 novas lojas abertas no último ano.
“O mercado tornou-se mais competitivo no ano passado, com vários
players abrindo uma quantidade considerável de lojas de atacarejo
no período, colocando uma pressão extra na margem bruta, que se
soma à menor alavancagem operacional”, fala o JP. “Há riscos
significativos de queda das expectativas de consenso. Dados da
Nielsen mostram que as vendas mesmas lojas do atacarejo para abril
já estão em terreno negativo em São Paulo e no Rio de Janeiro,
principais mercados do Brasil”.
De acordo com a pesquisa em questão, houve retração de 1,5% das
vendas mesmas lojas em São Paulo no primeiro trimestre, enquanto no
Rio de Janeiro o número avançou 0,4%. Em abril, contudo, tanto na
primeira região quanto na segunda o índice caiu, respectivamente,
3,9% e 2,7%.
Fora o recuo das vendas em mesmas lojas, com consumidores se
dividindo entre as unidades, a competição também causa impacto no
faturamento pelo lado das promoções, com os atacarejos tentando
tornar suas unidades mais atrativas.
Tudo isso acontece ainda após um período de bonança para o
Carrefour e o Assaí, o que traz pressão na base comparativa.
“Ambos enfrentarão a maior base de comparação do ano no segundo
trimestre, o que combinado com a inflação de alimentos mais lenta
pode significar uma desaceleração ainda maior para as vendas mesmas
lojas, com boa probabilidade de ficar negativo e a produtividade da
área de vendas cair ano a ano”, menciona o time de Giordano.
Todo esse pior cenário, por fim, ainda vem em um momento em que
as ações das duas companhias estão com entraves para subir. O
Carrefour, por conta da aquisição do Grupo BIG, está com uma dívida
elevada, tendo inclusive refinanciado parte dela com sua
controladora francesa. No caso do Assaí, o temor é que o Casino,
importante acionista, venda novas fatias da companhia, como já
sinalizou anteriormente.
Morgan Stanley tem visão mais positiva para Carrefour e
Assaí
Para os analistas do Morgan Stanley, liderados por Andrew Ruben,
no entanto, ainda há motivos para acreditar que o setor de
atacarejo brasileiro irá avançar.
A equipe do banco cita, como motivos para a queda recente,
também a inflação, a expansão das companhias e os juros mais altos.
Do outro lado, entre as razões para manter a confiança, está, por
exemplo, a possibilidade do atacarejo ganhar mercado nas vendas de
alimentos.
De acordo com dados do setor e nas estimativas do banco, o
atacarejo brasileiro hoje é responsável por 19% da venda de
alimentos diretamente para consumidores (B2B) e 25% na venda para
outros negócios (B2B).
“Do ponto de vista da estrutura de mercado, vemos ainda mais
espaço para ganhos na penetração do modelo de cash & carry”,
falam os analistas. “Ao analisar a penetração de formatos de
desconto em outros mercados, vemos mais espaço. Dados do
Euromonitor mostram que as empresas de cash & carry têm uma
participação acima de 35% na Noruega, Dinamarca, Alemanha e
Polônia, por exemplo”.
Para o banco, as recentes expansões, tanto do Assaí quanto do
Carrefour, são parte dos esforços dos grupos em capturar a expansão
desse mercado – e apesar das unidades abertas nos últimos tempos,
há espaço para mais, com o atacarejo ganhando espaço frente a
hipermercados, a supermercados tradicionais e ao mercado
informal.
Fora isso, Assaí e Atacadão tem, para o Morgan Stanley, outro
diferencial, que é o benefício de preço, devido a escala dos dois
grupos.
“Dentro do canal de atacado e autosserviço, observamos que o
Atacadão possui uma participação de mercado de 33% e o Assaí, 29%;
fora desses dois principais operadores, o mercado se torna
altamente fragmentado. Em um segmento orientado pelo preço, vemos a
escala do Atacadão e do Assaí como uma vantagem competitiva
sustentável e estrutural em relação aos concorrentes”, debatem.
Por fim, as ações, para o banco, devem se beneficiar de uma
provável melhora do cenário macroeconômico e do fim das conversões.
No caso do Carrefour, a administração antecipou o cronograma de
conversão da rede BIG para ser concluído no segundo trimestre. O
Assaí, por sua vez, já concluiu 70% das conversões do Extra.
“Vemos impulsos positivos provenientes do amadurecimento das
lojas e da superação de períodos de despesas pré-abertura
elevadas”, explicam. “Do lado dos lucros, os dois grupos sofrem
pressão por conta da combinação entre dívidas feitas durantes as
aquisições e as elevadas taxas de juros no Brasil. No segundo
trimestre, essas pressões persistirão, no entanto, acreditamos que
elas diminuirão a partir do meio do ano”.
De um lado, o JPMorgan se mantém neutro para as ações do
Carrefour e do Assaí, com preços-alvos para as ações ordinárias em
R$ 13, upside de 33,4% frente ao fechamento de ontem, e R$ 13,50,
upside de 20,4%. O Morgan Stanley, como contraponto, tem
recomendação overweight (performance acima da média do mercado,
equivalente à compra), com alvos, na mesma sequência, em R$ 17,5,
upside de 79,6%, e R$ 27, upside de 140,8%.
Informações Infomoney
CARREFOUR ON (BOV:CRFB3)
Historical Stock Chart
From May 2024 to Jun 2024
CARREFOUR ON (BOV:CRFB3)
Historical Stock Chart
From Jun 2023 to Jun 2024