Os últimos dias vêm sendo marcados por uma bateria de manchetes
negativas para a Gerdau. Greve de montadoras nos Estados Unidos,
possíveis demissões no Brasil e falas do atual presidente do seu
conselho foram algumas das notícias que minguaram os ânimos de
investidores com a empresa, que de favorita do setor no último
trimestre passou a ser uma incógnita.
No ano, até agora, as ações preferenciais da companhia acumulam
uma queda de mais de 13%. No último mês, apesar de a China ter dado
alguns sinais de que pode estar se recuperando, fora de que irá
estimular sua economia, os papéis caíram 3%.
Já há algum tempo, os executivos das siderúrgicas nacionais
mostram incômodo com o fato de o aço chinês estar entrando no
Brasil – durante as teleconferências de resultados do segundo
trimestre, as reclamações sobre a falta de tributação foram uma
constante.
Com a China, segunda maior economia do mundo cambaleando, bem
como o seu setor imobiliário, as fabricantes de aço do gigante
asiático passaram a exportar suas produções, que seriam
subsidiadas. Com isso, companhias como Gerdau, Usiminas e CSN
estariam encontrando dificuldades em se manter competitivas no
mercado brasileiro.
“Quanto à China, a gente até começou a ver alguns estímulos.
Contudo, precisamos de um tempo para ver se isso realmente vai
conseguir ajudar a economia do país. Acho que nesse primeiro
momento, esses estímulos anunciados vão muito mais na linha de
conseguir segurar o crescimento do PIB em pelo menos 5% do que
realmente impulsionar um crescimento mais forte”, fala Fabiano Vaz,
sócio e analista da Nord Research.
China no cerne das questões
Se a economia por lá não voltar a engatar, é provável que o país
continue exportando sua produção de aço. A China possui atualmente
cerca de 57% de participação no mercado global de siderurgia.
“Este cenário na região é decorrente de uma menor demanda na
construção civil chinesa. O país asiático focou boa parte da sua
economia neste setor e, atualmente, há uma desaceleração no ritmo
de compra de residências por parte da população, bem como problemas
financeiros nos balanços das principais construtoras daquele país”,
explica a Levante no seu morning call desta quinta-feira (28).
Parte do setor metalúrgico esperava ainda que a produção de aço
chinesa iria cair em 2023 por conta da economia mais fraca e de
olho nas restrições de produção, uma vez que no ano passado,
algumas regiões do país fecharam siderúrgicas, de olho nos níveis
de poluição. Isso, contudo, não deve mais acontecer em 2023.
“Ao contrário do que o mercado esperava, a siderurgia chinesa
deve crescer cerca de 2% este ano e atingir uma produção de um
bilhão e 80 milhões de toneladas de aço”, diz o time da
Levante.
A produção de aço chinesa aumentando, além de impactar
negativamente os preços do aço, ainda traz problemas para as
margens das companhias – uma vez que o minério, principal matéria
prima utilizada pelas siderúrgicas, continua em patamares
elevados.
“Em um cenário cujas siderúrgicas chinesas não tem desacelerado
como o mercado esperava, a Vale deve ter mais um trimestre de forte
geração de caixa”, fala a Levante. “Em contrapartida, as
siderúrgicas brasileiras enfrentam um cenário de maior dificuldade
com a chegada de um volume maior de produtos importados”.
Todo esse contexto leva a reclamações das brasileiras sobre a
tributação das importações. Recentemente, foi aprovada a volta da
carga tributária padrão para importação de produtos siderúrgicos,
que ficará entre 9% até 14,4% a partir de primeiro de outubro de
2023. As alíquotas de importação estão reduzidas desde o ano
passado. Os executivos das companhias locais, contudo, querem mais
– algo próximo a 25%, segundo o Instituto Aço Brasil.
Gerdau impactada por fatores internos e dúvidas nos
EUA
Fora a questão chinesa, há ainda dúvidas quanto aos fatores
brasileiros e também quanto à economia americana.
No segundo trimestre, a Gerdau (BOV:GGBR3) (BOV:GGBR4) era a
favorita de muitos dos especialistas por conta de sua maior
exposição aos Estados Unidos. Hoje, no entanto, essa maior
exposição se tornou motivo para maior cautela.
“Quanto à demanda doméstica, acho que o ciclo de queda de juros
pode até ajudar, mas hoje a gente já tem bastante dúvida em relação
a até onde essas baixas irão, porque a gente tem um fiscal com
bastante incerteza”, fala Fabiano Vaz.
“Já nos Estados Unidos, que representam cerca de 50% do Ebitda
[lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na
sigla em inglês], a gente ainda tem algumas incertezas de como vai
ser o ciclo de política monetária por lá e o quanto ele vai
impactar na economia. Com tudo isso, acabamos por ficar um pouco
desconfortável com as ações da Gerdau”, completa o analista.
Para o especialista da Nord, mesmo a Gerdau negociando hoje a
múltiplos baratos (cinco vezes o preço sobre lucro e três vezes o
Ebitda), é muito difícil afirmar como a empresa se saíra nos
próximos trimestres. “É provável que as ações continuem caindo”,
diz.
Agora, por fim, a greve das montadoras americanas coloca mais
névoa sobre a metalúrgica no curto e médio prazo. Gustavo Werneck,
diretor-executivo da Gerdau, afirmou à Bloomberg que a companhia
irá cortar sua produção de aço nos EUA por conta da paralisação. O
CEO da Gerdau afirmou que uma disputa prolongada terá, sem dúvida,
um impacto em cascata na procura por aço especial utilizado na
fabricação de componentes automotivos, o que afetará as atividades
da empresa.
Atualmente, segundo compilação da Refinitiv, as ações
preferenciais da Gerdau têm 12 recomendações de compra e quatro
neutras, com preço-alvo médio em R$ 32,65 – upside de 33,5% frente
ao fechamento da véspera.
informações Infomoney
GERDAU PN (BOV:GGBR4)
Historical Stock Chart
From Jul 2024 to Aug 2024
GERDAU PN (BOV:GGBR4)
Historical Stock Chart
From Aug 2023 to Aug 2024