O ano que está acabando será esquecível para os grandes
frigoríficos brasileiros. JBS, Marfrig e Minerva viram seus
balanços se deteriorando nas comparações anuais – mas 2024 pode ser
diferente para algumas delas, pelo menos para os analistas do
Santander.
As duas primeiras empresas, JBS (BOV:JBSS3) e Marfrig
(BOV:MRFG3), foram impactadas negativamente principalmente por
conta do ciclo de gado nos Estados Unidos, país onde têm grandes
partes das suas produções.
Por lá, o ciclo do gado se encontra em um período de baixa, o
que encarece o preço da cabeça e, decorrentemente, aumenta os
gastos dos frigoríficos. A JBS, por exemplo, viu sua margem Ebitda
(Ebitda = Lucro antes de juros, impostos, depreciação e
amortização, na sigla em inglês/receita) ficar em 5,9% no terceiro
trimestre, ante 9,6% um ano antes.
O time do banco, chefiado por Guilherme Palhares, continua a
enxergar um cenário difícil nessa frente em 2024, mas vê tanto a
JBS quanto a Marfrig com gatilhos positivos.
“Na nossa visão, 2024 deverá ser outro ano desafiador para a
produção de carne bovina nos EUA. Os abates devem continuar a
diminuir, pois ainda não vemos sinais de retenção de gado. Isso
pode levar a preços altos do gado para os próximos dois anos em um
cenário de potencial limitado de repasse”, fala.
No caso da JBS, porém, a normalização da oferta de frango e o
forte momento na Austrália mais do que compensam a dificuldade que
a empresa deve enfrentar com a US Beef. .
Os mercados brasileiro e americano de frango enfrentaram
dinâmicas semelhantes em 2023, com a superprodução sendo a
característica principal.
Durante o primeiro semestre de 2023, de acordo com os analistas,
a queda nos preços do frango levou a um maior nível de alojamentos
e pressionou os preços. No segundo semestre de 2023, no entanto, os
alojamentos desaceleraram à medida que as exportações diminuíram, o
que ajudou a sustentar os preços no mercado interno devido à menor
disponibilidade.
“Acreditamos que 2024 está começando melhor do que 2023, pois os
alojamentos desaceleraram e os preços no mercado interno estão
estáveis. Por outro lado, deve ser um caminho cheio de obstáculos
pela frente”, fala.
Já no caso da Austrália, a visão é de que o ciclo do gado
melhorou acentuadamente no final de 2023. O time do banco traz que
os preços do gado caíram 34% desde o início do ano e o abate de
gado em 2023 deve crescer 11% em relação ao ano anterior.
A Seara, braço de frango no Brasil, foi responsável por 11,62%
da receita da JBS no terceiro trimestre, a Pilgrim’s Pride, braço
nos Estados Unidos, por 23,8%, e a JBS Austrália, por 8,5%. A Beef
North America, do outro lado, respondeu por 31,5% do faturamento da
companhia.
Além do ciclo do gado
Por fim, há ainda a potencial listagem da JBS nos EUA. “Seria
transformadora e poderia preparar a empresa para uma nova fase de
crescimento, enquanto permitiria acesso a uma nova base de
investidores e financiamento”, acrescentam.
No caso da Marfrig, a principal razão que deixa o Santander
otimista é o fato de que a companhia está negociando com um
valuation atrativo, com sua fatia na BRF não precificada.
Fora isso, uma maior resiliência do seu negócio nos Estados
Unidos e o legado da venda de plantas para a Minerva (BOV:BEEF3)
também são diferenciais, com a companhia provavelmente ficando com
os frigoríficos mais lucrativos, que devem aumentar suas
margens.
“De 2010 a 2015, a National Beef conseguiu superar a indústria
de carne bovina. As margens de Ebitda para os primeiros três anos
da parte negativa do ciclo ficaram acima de 4%. Isso foi há 13 anos
e a empresa está agora em uma posição ainda melhor para superar o
mercado”, dizem. “A Marfrig vendeu uma capacidade de 19,4 mil
cabeças por dia para a Minerva no início de 2023. Os ativos legados
são maiores e têm maior exposição a produtos de valor agregado, o
que deve reduzir a volatilidade dos resultados no futuro”,
completam.
Já a Minerva, para a qual o Santander está um pouco menos
otimista, pode ser impactada justamente pela sua aquisição. A
empresa, como já mencionado, adquiriu diversas unidades de abate da
concorrente por R$ 7,5 bilhões.
“A movimentação ainda precisa ser aprovada pelas autoridades
antitruste e, embora a aquisição esteja alinhada com os objetivos
estratégicos, existem riscos relacionados a uma possível reversão
do ciclo do gado no Brasil antes que a desalavancagem ocorra e às
incertezas quanto ao tempo de fechamento do negócio”, dizem os
analistas do Santander.
Hoje, o ciclo no Brasil está em um momento positivo para os
frigoríficos, devido à alta do número das cabeças, o que impulsiona
o Ebitda. Se a tendência mudar, a alavancagem da companhia, medida
pela relação entre dívida líquida e Ebtida, pode aumentar
consideravelmente.
Por fim, a BRF (BOV:BRFS3), para o time do Santander, deve
surfar no curto prazo por conta da redução de custos, com o preço
dos grãos em baixa, e das despesas financeiras, devido aos aportes
que a companhia recebeu.
No entanto, a tendência pode mudar. “Os preços do milho têm um
risco de alta devido ao estresse climático em áreas
produtoras-chave e há ainda um aumento na concorrência de alimentos
processados”, explicam.
O Santander tem recomendação de outperform (acima da média do
mercado, equivalente à compra) para JBS, com preço-alvo em R$ 37
(potencial de alta de 52%), bem como para a Marfrig, com preço-alvo
em R$ 15,70 (potencial de 70,4%). Para a Minerva e para a BRF as
recomendações são neutras, com alvos em R$ 8 (7,8%) e R$ 16
(12,3%).
Informações Infomoney
MARFRIG ON (BOV:MRFG3)
Historical Stock Chart
From Sep 2024 to Oct 2024
MARFRIG ON (BOV:MRFG3)
Historical Stock Chart
From Oct 2023 to Oct 2024