De uma tese de investimentos bastante promissora a um case que
virou alvo de desconfianças do mercado. Desde a noite do último
domingo, quando houve o anúncio de aumento de capital, analistas
têm se mostrado reticentes com as ações da 3R Petroleum
(BOV:RRRP3). Após o comunicado, que fez a ação cair quase 16%,
analistas revisam seus números para a companhia e também opinam se
vale a pena entrar na operação de follow-on.
Tudo começou na noite do último dia 16, quando a 3R emitiu um
fato relevante informando ao mercado o interesse em realizar um
aumento de capital entre R$ 600 e 900 milhões, com o objetivo de
melhorar a estrutura de capital. Após este follow on a empresa deve
passar a um valor patrimonial de R$ 5,1 bilhões.
Segundo o fato relevante, o motivo da emissão de ações
inesperada é para reforço de caixa da companhia, investimentos na
revitalização do maquinário e preparação para a conclusão da
aquisição do Polo Potiguar (da Petrobras PETR4) que pode sair já no
mês de maio deste ano.
A notícia surpreendeu o mercado e gerou especulações sobre a
qualidade do balanço da companhia.
“Achamos a notícia negativa para a empresa”, destacou a Genial.
O primeiro ponto que chama a atenção em relação a essa decisão, de
acordo com os analistas, foi por conta do contínuo posicionamento
anterior da empresa em relação ao seu plano de investimentos e a
não-necessidade de novas fontes de financiamento para Potiguar.
“Ou seja: achamos essa decisão de levantar capital surpreendente
– ainda assim, é importante lembrar que a última certificação de
reservas trouxe surpresas ligeiramente negativas a empresa tendo em
vista os menores volumes esperados nos próximos anos versus uma
maior quantidade de investimentos necessários no curto prazo, o que
naturalmente, pressionaria o seu fluxo de caixa para os próximos
anos”, avalia a casa.
Nesse sentido, a Levante apontou que o anúncio do aumento de
capital não seria em si tão surpreendente já que, desde a
divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2022, a companhia
vem sinalizando alguns problemas operacionais, com um montante
gasto em capex (investimentos em capital) e opex (gastos
operacionais) acima do esperado para a revitalização de alguns
ativos.
As informações de problemas continuaram e na semana passada,
quando a empresa divulgou o seu relatório de produção, foi
informada uma queda de produção de 52,5% no campo de Papa Terra, no
mês de março frente ao mês de fevereiro.
“Esses motivos consumiram mais caixa da companhia do que o
esperado, o que fez a administração da empresa tomar a decisão de
chamar capital”, afirmam.
Contudo, a sinalização recorrente aos investidores de que não
chamaria mais capital tão cedo acabou por tornar uma notícia
potencialmente positiva – por indicar mais investimentos – em uma
notícia negativa.
Pelo lado positivo, o anúncio veio acompanhado de um aumento na
confiança de que o acordo com a Potiguar será fechado.
“De acordo com a gerência, a 3R está a duas etapas de concluir o
acordo com a Potiguar. Em primeiro lugar, o Ibama e o Idema estão
em suas etapas finais para aprovar o acordo, e a 3R afirmou que
espera uma resposta final de ambas as instituições nas próximas
semanas. Em segundo lugar, a governança afirmou que, uma vez
aprovado, seria necessário 20 dias úteis para definir a data de
fechamento”, ressalta a XP.
Vale destacar que a incerteza sobre a compra do polo da
Petrobras predominou no início de março, quando o Ministério de
Minas e Energia pediu para a estatal suspender a venda de ativos
por noventa dias, mas a companhia seguiu no processo de alienação
daqueles com contratos já assinados, o que aumentou a confiança na
venda do ativo.
De acordo com apresentação para analistas feita pela empresa
ontem (e cuja divulgação foi alvo de críticas, uma vez que muitos
deles só souberam do evento posteriormente), o motivo de decidir
pela emissão de novas ações está relacionado ao momento desafiador
no mercado de crédito e que com altos custos pedidos acabaria por
pressionar os covenants de curto prazo da empresa (limite de
endividamento imposto pelos credores).
Dentre outros argumentos, foi citado o nível de investimentos
necessários para o desenvolvimento do ativo Potiguar poderia ser
afetado por eventuais quedas no preço do brent, risco que a empresa
prefere não correr. “É importante mencionar que de acordo com as
nossas estimativas, a empresa não precisaria emitir novas ações
para financiar a aquisição/desenvolvimento do ativo”, afirma a
Genial, que destaca que, em suma, “a empresa anunciou que precisa
de mais recursos para entregar exatamente aquilo que já era
prometido anteriormente em termos de produção”.
Além da chamada de capital em si depois da companhia chegar a
dizer anteriormente que não via necessidade de novos
financiamentos, os termos em si da operação foram considerados
negativos.
A partir desta quarta-feira, todos os investidores da base
acionária da RRRP3 terão direito de preferência para exercer seus
direitos de subscrição a R$ 24,45 por ação até o dia 22 de maio,
evitando diluição. Para aqueles que não exercerem seus direitos, a
diluição mínima será de 10,8% e a máxima de 15,3%, e terão a opção
de vender seus direitos de subscrição no mercado.
“Dado o grande desconto em relação aos preços de mercado, nossa
percepção é que quaisquer direitos não subscritos provavelmente
serão comprados, garantindo o sucesso da oferta”, avalia o BTG
Pactual.
O BTG também aponta que não achava que um aumento de capital era
necessário e seu momento (antes da conclusão do negócio Potiguar) é
certamente inesperado. “A decisão de realizar uma colocação privada
em vez de buscar recursos a um preço que minimize a diluição
acionária também pode aumentar as preocupações do mercado sobre o
potencial de valorização de curto prazo do RRRP, principalmente
considerando que a empresa já está passando por mudanças
operacionais e administrativas significativas”, afirma a equipe de
analistas.
A XP também ressalta que fazer uma chamada de capital em níveis
de valuation tão baixos levantou uma bandeira vermelha para os
investidores.
“Apesar da explicação da empresa, o movimento pareceu
desnecessário, sob nossa visão, considerando que o balanço da
empresa estava pronto para a aquisição. (…) Observamos que os
investidores estão preocupados com o desconto de preço e o momento
da operação”, reforça.
O momento do anúncio também foi visto como questionável pelo
Bradesco BBI uma vez que, também com base em suas estimativas, a
empresa não precisaria levantar capital. “Mesmo com a aquisição da
Potiguar, vemos a 3R encerrando 2023 com um relação Dívida
Líquida/Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e
amortizações] em 1,1 vez. Com base em nossos cálculos, mesmo que a
empresa usasse todos os recursos para pagar dívidas de 10% ao ano
em dólar, a diluição do LPA (lucro por ação) varia de 9% a 12%”,
afirma.
Para Bruce Barbosa, analista da Nord Research, a 3R não fez nada
fora do comum, uma vez que já realizou três emissões de ações desde
seu IPO (R$ 36, R$ 35,50 e R$ 33) para comprar novos campos. “Faz
todo o sentido que a empresa seja mais conservadora neste momento e
queira um pouco mais de fôlego (caixa) em seu balanço — reduzindo
riscos à estabilidade do negócio”, afirma.
Entre os riscos, estão o de queda do petróleo, mercado de
crédito mais arisco, crise bancária nos EUA. Porém, critica a
gestão da companhia em saber desse cenário de dificuldades e que a
3R iria comprar Potiguar, mas não ser se planejado para a
emissão.
“Como fez nas outras emissões, contratar os bancos de
investimento para sentir o mercado e buscar um preço melhor seria
apenas fazer o óbvio”, afirma.
Questões no radar e revisão de estimativas
Depois que a 3R anunciou o aumento de capital, os analistas do
Bradesco BBI cortaram o preço-alvo para 2023 de R$ 80,00 para R$
62,00 para as ações, refletindo uma redução de nossas estimativas
para receitas incorporadas e diluição de capital, bem como uma
curva de investimentos 20% maior, para incorporar a preocupação do
mercado sobre execução.
Os analistas ressaltam que a companhia justificou o aumento de
capital de forma a evitar pressão no balanço patrimonial (com base
em cenários de estresse do petróleo), mantendo todos os seus
ativos.
“No entanto, permanecem questões como: Quais cláusulas de dívida
desencadearam essa decisão e quão perto a 3R esteve de violá-las?;
A Gerdau (BOV:GGBR4) exercerá todos os seus direitos de subscrição
ou reduzirá novamente sua exposição à 3R?; e Quais são os
potenciais novos investimentos a partir daqui?”, pontuam.
Para eles, algumas dessas questões (principalmente sobre
investimentos) só serão respondidas quando a 3R executar seu plano
de desenvolvimento. Alguns sinais de preocupação foram vistos no
mercado após o relatório de certificação da PetroReconcavo
(BOV:RECV3) (que apontou aumento significativo na curva de
investimentos e incertezas em relação ao crescimento da produção no
longo prazo), e o momento desse aumento de capital pode elevar
essas preocupações.
“Será vital para a 3R focar na execução operacional. Mantemos
nossa recomendação de compra para as ações, pois nosso preço-alvo
(que considera uma curva de produção/investimentos mais
conservadora) ainda oferece um potencial de valorização atraente”,
afirmam os analistas.
O BTG apontou ser “fã” da tese da RRR e vê o baixo fator de
recuperação do portfólio da empresa como uma grande oportunidade de
criação de valor a longo prazo. “No entanto, mudanças repentinas em
sua estratégia e uma comunicação relativamente ruim com o mercado
têm prejudicado consistentemente o desempenho da ação”, afirma.
“Embora ainda acreditemos no valor subjacente de longo prazo da
empresa, a oferta anunciada pode atrasar ainda mais qualquer
melhoria potencial na percepção dos investidores, que podem até
ficar desconfiados de possíveis decepções operacionais futuras”,
complementa o banco.
Contribuindo para o cenário de menor transparência da companhia,
notícias se espalharam pela imprensa de que um conselheiro da 3R
comprou no início de março um collar (operação em que vende call,
ou opção de compra, compra put spread, ou faz uma “trava de baixa”)
para proteção para suas ações.
De acordo com a fonte da publicação, a operação teria sido feita
por Richard Gerdau Johannpeter, um dos representantes da família
Gerdau no conselho. A Gerval, o veículo de investimento da família,
tem cerca de 10% da 3R – depois da companhia ter reduzido sua
participação em 1 ponto percentual no início de março. Segundo o
Brazil Journal, a operação “não teve nenhuma relação com o
follow-on,” e foi feita no início do mês passado porque Richard
estava preocupado com o imposto sobre a exportação de petróleo.
De qualquer forma, a operação do conselheiro levantou
questionamento sobre negociações com ações na pessoa física por
parte de conselheiros que têm acesso a informações materiais e
privilegiadas.
Em novo fato relevante, dessa vez emitido na noite do dia 17 de
abril, a administração informou que os dados coletados sobre as
posições dos conselheiros ocorreu no dia 6 de abril e a votação da
nova emissão de ações com preço 25% abaixo do negociado no mercado
ocorreu seis dias depois, 12 de abril de 2023. Dessa forma, a
compra do seguro por parte do membro do conselho teria ocorrido
antes da aprovação da rodada de captação.
Participar ou não do aumento de capital?
Neste cenário em que a companhia segue com um bom potencial de
produção, mas que há mais questionamentos sobre a governança,
analistas de mercado se debruçam sobre se vale a pena entrar ou não
na operação.
Mais detalhadamente, todos os acionistas de RRRP3 no fechamento
do mercado do dia 19 de abril de 2023 receberão o direito de
comprar mais 18% de sua posição em novas ações de 3R a R$ 24,45 por
ação.
A decisão de comprar ou não as novas ações deverá ser tomada até
22 de maio de 2023. Os direitos também poderão ser negociados no
mercado.
“Hoje, imaginamos que será interessante participar da
subscrição”, afirma o analista da Nord.
De acordo com ele, há dois lados da moeda, uma vez que a
preocupação com a governança aumentou, mas a oportunidade de
crescimento é grande.
“Mesmo com o risco de que esta gestão de 3R não consiga entregar
os resultados que poderiam, ainda achamos que RRRP3 é compra. Na
ânsia de apresentar esses resultados, a companhia até antecipou
seus resultados do 1T23 para 26 de abril — bom sinal”, aponta.
A produção de petróleo de 3R sobe forte, as ações não, ressalta
o analistas, em meio às projeções de crescimento de produção de
465% em 5 anos. “Mas como vimos em muitas emissões, imaginamos que
as ações de 3R podem cair até o preço de emissão (R$ 24,45)”,
ressalta.
A Genial, por sua vez, recomenda não participar da capitalização
da empresa. A casa afirma que tal decisão pode parecer
razoavelmente contraditória tendo em vista o seu preço-alvo para o
ativo, de R$ 62, ou um potencial de valorização de 124% em relação
ao fechamento da véspera (que ainda não considera a diluição
esperada).
Os analistas apontam ser importante mencionar que o processo de
avaliação pelo fluxo de caixa descontado considera toda a
perspectiva de longo prazo para o ativo e, a despeito de todo
ruído, permanece no momento.
“Entretanto, mesmo considerando o preço proposto no follow-on de
R$ 24,50 por ação, não consideramos a 3R Petroleum tão barata assim
versus a principal empresa comparável do setor, PRIO (BOV:PRIO3).
Como podemos perceber, PRIO3 negocia praticamente no mesmo nível de
avaliação da RRRP3 pela métrica de valor da empresa sobre Ebitda
esperado para 2024″, aponta.
Assim, a decisão de não participar da subscrição da 3R deriva-se
exatamente dessa questão, afirmam os analistas: a possibilidade de
alocar recursos em um case comprovado, sem os mesmos ruídos e com
valuation interessante, ainda que tomado por perspectivas de curto
prazo.
“Ou seja, preferimos alocar ‘dinheiro novo’ em um case ‘redondo’
do que dar um benefício da dúvida a uma tese que vem se mostrando
confusa e ainda cercada por questionamentos. Afinal de contas,
pouco vale as nossas estimativas para 2025 e diante para 3R (onde
se encontra o grande valor da 3R versus PRIO) caso o cenário de
execução aquém do esperado se cristalize daqui por diante”, conclui
a Genial.
As ações da 3R seguem em baixa na B3. Após a derrocada de
segunda-feira, os ativos caem cerca de 3% na tarde desta
terça-feira.
Informações Infomoney
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