A renúncia do presidente da Cielo (BOV:CIEL3), Paulo Caffarelli,
após quase três anos no cargo, ocorreu em meio a um desgaste
crescente entre os sócios Banco do Brasil e Bradesco.
O anúncio, feito na noite de quarta-feira, foi mal recebido no
mercado, em meio à sensação de que a reestruturação, até então em
curso, vai atrasar, prejudicando ainda mais a líder das
maquininhas.
Pesou na decisão do executivo a difícil relação entre o Bradesco
e o Banco do Brasil, disseram três fontes, na condição de
anonimato. A permanência de Caffarelli na presidência da Cielo era
exatamente um dos vetores de estresse entre os sócios.
Isso porque o governo, que controla o BB, não queria o executivo
no cargo por enxergá-lo como um nome alinhado ao PT, por conta de
seu histórico profissional, a despeito de ter presidido o banco
público somente na presidência de Michel Temer, após o impeachment
da ex-presidente Dilma Rousseff.
A insatisfação do Planalto não vem de hoje. Desde o começo do
novo governo, há uma força-tarefa para limar aqueles considerados
petistas nas empresas públicas e coligadas.
A Cielo não ficou de fora. Nos bastidores, comenta-se que foram
feitas três tentativas para tirar Caffarelli da presidência da
companhia. Na primeira, o até então presidente do BB, Rubem Novaes,
impediu. Na segunda, foi a vez do Bradesco, que trouxe o executivo
para o cargo, entrar em ação.
Já a terceira tentativa estava em curso, dizem as fontes. O nome
de um possível substituto para presidir a empresa seria o do
presidente do banco Desenvolve-SP, Nelson de Souza, que teria o
apoio do Centrão.
O Bradesco, porém, teria rejeitado, em um esforço de blindar seu
negócio de maquininhas de pressões políticas.
Diante do desgaste entre os sócios, Caffarelli teria comunicado
sua intenção de deixar o cargo, relataram as fontes. A medida
evitaria, assim, explicam, uma fritura pública, que se tornou uma
espécie de praxe no governo Bolsonaro.
Uma fonte próxima a Caffarelli afirmou que permanecer na Cielo
era “insustentável” para o executivo, visto que ele não desfrutava
mais de apoio político. “Era uma situação difícil. O desgaste foi
muito grande”, afirmou, na condição de anonimato.
Caffarelli chegou à Cielo a convite do Bradesco, após deixar o
comando do BB, no fim da gestão Temer, em novembro de 2018. O
executivo capitaneou uma reestruturação na companhia, com o corte
de custos e mudança de foco, voltando-se ao varejo, que é mais
rentável.
Em paralelo, tentava reposicionar a líder das maquininhas em um
cenário de elevada competição e inovação tecnológica. No meio do
caminho, teve de lidar com a pandemia, que afetou diretamente o
varejo.
“A saída de Caffarelli no meio da reestruturação é ruim. A
sinalização que tenho é a de que a reestruturação vai demorar muito
mais do que o esperado”, disse o diretor de renda variável da
Eleven Financial, Carlos Daltozo.
Novos tempos
Para outro especialista, a saída do executivo pode sinalizar uma
“mudança dos rumos da companhia”, fechando um eventual ciclo de uma
empresa listada em bolsa, com dois controladores. Ele lembra que a
estrutura societária da Cielo “precisa e está sendo repensada”.
Procurada, a Cielo não comentou. O Bradesco afirmou que se trata
de uma decisão pessoal do executivo e que o banco respeita. O BB
não se manifestou.
Paulo Caffarelli renuncia ao cargo de diretor-presidente
A Cielo informou que Paulo Rogério Caffarelli apresentou sua
carta de renúncia ao cargo de
diretor-presidente.
“Conforme deliberado em reunião do conselho de administração, os
conselheiros aceitaram a renúncia e expressam seu agradecimento ao
Sr. Paulo Caffarelli, que deixará a Cielo após quase três anos à
frente da companhia, período em que liderou importantes melhorias
operacionais, com destaque para a atuação comercial e o modelo de
atendimento, ao mesmo tempo em que fomentou de forma relevante o
processo de transformação cultural e digital da Cielo”, afirmou a
empresa em um fato relevante enviado ao mercado.
Lucro líquido de R$ 241,3 milhões no primeiro trimestre, avanço
de 44,7%
A Cielo, controlada por Bradesco e Banco do
Brasil, apresentou lucro líquido de R$ 241,3
milhões no primeiro trimestre deste ano, cifra 44,6% maior que
o registrado no mesmo intervalo de 2020. Em relação aos três meses
imediatamente anteriores, o resultado da líder das maquininhas
encolheu 19,1%, quando a base de comparação é impactada pelo maior
volume tradicional à época.
Já o lucro líquido recorrente de R$ 135,8 milhões no
primeiro trimestre deste ano, resultado 18,6% menor do que o
apurado no mesmo período de 2020 e 54,5% inferior ao do quarto
trimestre. Esse valor exclui ganhos não recorrentes de R$ 105,5
milhões com a venda da Orizon, cessão e atualização monetária da
plataforma Elo, além da reversão de provisões com novos projetos e
reestruturações.
O Ebitda – juros, impostos, depreciação e
amortização – caiu 20,1% e somou R$ 613,6 milhões, na mesma
base de comparação.
A receita operacional líquida foi de
R$ 2,7 bilhões, recuo de 3,8% ante igual período do ano passado,
enquanto a receita de aquisição de recebíveis líquida caiu 49,3% no
trimestre e somou R$ 95,8 milhões.
Informações O Estado de S. Paulo.
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