Prestes a pedir recuperação judicial nos EUA, ações da Gol amargam perdas e são a maior desvalorização do Ibovespa
January 19 2024 - 8:00AM
Newspaper
A semana pós rumores de que a Gol estaria prestes a pedir
recuperação judicial nos EUA (pelo Chapter 11) é difícil para as
ações da companhia, que amargam perdas de 12,63% em quatro pregões,
a maior desvalorização do Ibovespa na semana até a última quinta.
Em 2024, até o pregão do último dia 18, os papéis já caíram 26%, a
segunda maior queda do índice.
Em nota ao mercado também nesta semana, a companhia aérea disse
que ainda estava discutindo com os stakeholders financeiros sobre
como chegar a uma reestruturação “consensual” e que ainda não tem
uma definição de como a reestruturação seria implementada. Ela
ressaltou seu compromisso com a captação de recursos para
fortalecer sua posição de caixa.
A empresa tem lutado com dívidas elevadas e no mês passado
contratou a Seabury Capital para ajudar a estabelecer uma revisão
da estrutura de capital que abordaria gestão de passivos,
transações financeiras e outras medidas para aumentar a
liquidez.
A Gol (BOV:GOLL4) encerrou o terceiro trimestre com uma relação
dívida líquida/Ebitda (ou lucro antes de juros, impostos,
depreciações e amortizações) de 7,9 vezes, que ainda é bastante
alta em comparação com seus pares diretos, mas bem abaixo dos
níveis de alavancagem máxima da pandemia (10,1 vezes no 1T22). A
empresa tem mais de R$ 20 bilhões em dívidas de financiamento,
incluindo R$ 3 bilhões com vencimento no curto prazo, e atualmente
enfrenta uma escassez de caixa para cumprir essas obrigações. Mas a
empresa informou que “segue cumprindo as suas obrigações em todos
os seus empréstimos e financiamentos, sem nenhum atraso nas
parcelas de juros ou amortização”.
A Gol tem uma pequena presença nos EUA e uma possibilidade
aventada seria entrar com pedido de recuperação judicial no Brasil,
conforme apontou o Citi.
A entrada no “Chapter 11” nos EUA funcionou bem para a LATAM,
par direto da Gol, avalia o BTG Pactual, mas a chilena entrou no
processo de reestruturação com muito melhor liquidez, o que
geralmente aumenta o poder de barganha com os detentores de crédito
durante o processo de reestruturação. O banco lembra que restrições
de capital estavam entre as razões pelas quais os analistas da casa
rebaixaram a recomendação da Gol para neutro no ano passado.
A visão é de que restrições globais de fornecimento, refletidas
em atrasos contínuos nas entregas de peças de reposição,
particularmente motores, e aumento de custos em todo o setor de
aviação, exercem pressões financeiras adicionais sobre a companhia
aérea. A Gol, em seu mais recente Investor Day, apontou que atrasos
do fabricante de aeronaves Boeing estão prejudicando suas
perspectivas de crescimento. Ela esperava terminar 2023 com 57
aeronaves Boeing 737-MAX, mas a projeção foi reduzida para 39. Os
problemas globais de manutenção de motores agravam esses desafios,
pois os fabricantes de peças de reposição lutam para atender à
demanda.
Na visão dos analistas do banco, como ocorre em reestruturações,
a capacidade da Gol pode sofrer ajustes dependendo do nível de
reestruturação de capital necessário, lembrando ainda que os
últimos números operacionais da empresa já mostravam que a Gol
estava reduzindo a oferta total (ASK) anual, indicando uma redução
de frota.
A maior sobreposição de rotas da Gol é com a LATAM,
particularmente em hubs movimentados como Congonhas, Guarulhos,
Santos Dumont e Brasília. Por outro lado, dada a necessidade de
melhorar a rentabilidade, o BTG vê que o ajuste deve se concentrar
em rotas menos premium, como destinos no interior, oferecendo assim
oportunidades para empresas como a Azul.
“No entanto, não esperamos uma redução drástica da capacidade,
pois o mercado doméstico brasileiro já mostra uma dinâmica
melhorada de oferta e demanda, elevando as tarifas para níveis
recordes”, afirma.
Se pode haver alguma oportunidade para a Azul, há quem veja o
setor em geral com grande cautela. Danielle Lopes, analista da
Nord, ressalta que o setor de aviação é altamente sensível a
eventos externos, como a pandemia, que fez o governo liberar
enormes volumes de dinheiro para ajudar o setor a ficar de pé, além
do alto impacto nas flutuações do preço do petróleo (combustível é
um dos maiores custos operacionais).
“Os custos da companhia cresceram em média 20% após todos esses
fatores e a sua receita não acompanhou. Além disso, o setor tem
enfrentado uma enorme competição nos últimos anos”, avalia a
analista. No caso da Gol, a combinação da pandemia, disparada nos
preços de petróleo e dólar em alta pesou excessivamente em seus
custos. Com receitas majoritariamente em reais e competição
crescendo, as dívidas aumentaram, aponta.
A cautela se reflete nas recomendações do mercado para os
ativos. De acordo com compilação LSEG com nove casas que cobrem a
ação GOLL4, sete possuem recomendação neutra e duas de venda, ainda
que o preço-alvo médio seja de R$ 8,77, ou potencial de alta de 32%
frente o fechamento de quinta (levando em consideração também a
queda recente dos ativos). Já para a Azul, o mercado está mais
dividido: de dez casas que cobrem a ação, cinco recomendam compra e
cinco manutenção, com preço-alvo médio R$ 20,41, ou upside de 62%.
No ano, as ações AZUL4 caem 21,17%, a terceira maior baixa do
Ibovespa, enquanto registram baixa de 9,66% na semana até
quinta.
Informações Infomoney
GOL PN (BOV:GOLL4)
Historical Stock Chart
From May 2024 to Jun 2024
GOL PN (BOV:GOLL4)
Historical Stock Chart
From Jun 2023 to Jun 2024